LEMBRANÇAS DA VILA ESPERANÇA...
Vila
Esperança foi lá que conheci muitas Marias e os meus primeiros amores... Saudades de nossa querida e saudosa Vila
Esperança... Lembranças da uma Vila de outrora na periferia do Bairro da Penha, enredo de uma famosa marchinha de carnaval composta por Adoniram Barbosa e cantada pelos Demônios da Garoa...
Morei, na minha adolescência, na famosa Vila Esperança, no Bairro da Penha, em São Paulo. Cheguei por lá, vindo do Bairro do Cangaíba, no final de minha infância e já entrando na adolescência... Foi o único lugar que cultivei vários amigos e onde conheci muita gente...
Morei, na minha adolescência, na famosa Vila Esperança, no Bairro da Penha, em São Paulo. Cheguei por lá, vindo do Bairro do Cangaíba, no final de minha infância e já entrando na adolescência... Foi o único lugar que cultivei vários amigos e onde conheci muita gente...
Conhecia
muita gente na Vila, porque jogava futebol (não fui um craque, tipo Neymar ou
Ganso), mas o esporte traz, de uma maneira ou de outra, muitos amigos... Era um
adolescente muito atirado daí, houve, por conseqüência, alguns desafetos,
raros, mas houve, e com alguns chegou até o ser sério (ciumeira, deles, por
causa de namoradinhas, principalmente das meninas bonitas)... Coisa de
moleque... Pra evitar confusão comecei a namorar só com menina feia... Mulher feia e dinheiro pouco, ninguém quer troco... A partir daí, ninguém mais mexeu comigo e voltamos a ser amigos, “pero non mucho”, mas com mais e o
devido respeito...
Morei
na Rua Nilza, no coração da Vila... Concluí o primário, à noite, lá mesmo na
Vila, no Grupo Escolar Monsenhor Passalácqua, na Rua Gilda... Na realidade, comecei
no G. E. Santos Dumont e depois no G. E. Barão de Ramalho (entra burro e sai cavalo), na Penha, porque eram Grupos pertos de
meu serviço... Depois, quando passei a trabalhar no Centro de São Paulo, ainda
moleque, achei por bem terminar o último ano do primário na Vila Esperança,
mais perto de casa...
Assim,
como todo adolescente, também joguei bola no time do bairro, a Portuguesinha,
cuja sede era na Rua Gilda... A sede ficava numa sala alugada do Misti, irmão
do Clodo (trompetista) e Jarbas (cantor), dono da famosa orquestra do Clodo. Os
craques do time, naquela oportunidade, era Osmar (Leila), Preguinho, Rino, Vicente
(Caju), Bolinha, Vivaldo (Banzé), Rômulo, Biguá, Hildebrando, Zé Rodenas
(Puskas), Irineu, Newton (Barbeiro), Hélio (Coelho), e outros boleiros...
Joguei também no CBD (Clube Brasil Desportivo, time do seu Rafael, pai de dois
boleiros famosos da Vila, o Wagner e o Wilton), no OLÍMPICUS da Vila Marieta
(GRO), no E. C Vila Aurora, no A. E. Amazonas, no S. C. SALAS e outros times menores
da Vila... O OLÍMPICUS tinha um salão de festas na Vila Marieta, atrás do cine
Paganini, onde a gente dançava todos os sábados e domingo e era um celeiro de
craques, tais como Adauto, Miguelzinho (pirueta), Canhoteiro, Banzé, Marinho,
Baia e um monte de boleiros, que também jogavam no time da Tecelagem Varietex, e
que até recebiam cachê para jogarem. Até cheguei por lá, a convite e indicação,
mas só fiquei na reserva assistindo do banco e só me deram um copo de tubaína
pra beber, desisti e não apareci mais... Não pela tubaína, mas porque gostava mais
de jogar bola do que ficar sentado... Nada mais me fez voltar por lá...
A
gente treinava num campinho descampado, que ficava dentro do mato da dona
Olívia, antes de ser tomado pelo governador (o Carvalho Pinto)... Conheci,
pessoalmente, o chefe de gabinete do Governador, Dr. Marcio Porto, através de
seu filho Fabiano Porto, hoje um famoso lobista, que, na época, trabalhava
comigo, e me confidenciou a intenção do governador em desapropriar a mata da
dona Olívia. O objetivo era a construção do Colégio Estadual Gabriel Ortiz e do
Quartel da Polícia Militar da Vila... O nosso campinho ficava em frente à Fábrica
Varietex, esquina com a Rua Nilza e do ponto final do ônibus Vila Esperança/Penha.
E, naqueles rachas a gente ia conhecendo os boleiros, que nos convidava para
jogar em seus times de futebol, onde mandavam prender e soltar, ou seja, nos
indicava pra ser titular ou reserva, conforme a ótica ou amizade de cada um
deles... Fui titular em poucos times, como Vila Aurora, o Amazonas, Salas e o CBD...
No resto era coadjuvante e reserva do segundo quadro e olha lá... Muitas vezes
injustiçado por algum motivo qualquer... Sei lá... Mudava logo de time e fim...
Tinha
o Cine Paganini, cujas matinês regadas a bang-bang eram imperdíveis, bala pra
todo lado em duas sessões. Nos bailes de Carnaval os melhores da minha época foram
o Cine São Sebastião, o RUVE – Recreativo União de Vila Esperança e o Cinco de
Julho além dos blocos de Carnaval de Rua da Vila Esperança. Os blocos que mais curti
foram o RUVE, 5 de Julho, Corujas, Boca de Sino, CBD e Olímpicus... Jamais
deixei de ir aos bailes de Carnaval na Penha, as mais famosas matinês
carnavalescas eram no Cine Penha Palace, no largo da Penha e no Clube Penhense,
ao lado da Estação da Central do Brasil... Só bem depois passei a freqüentar o
Carnaval do Corinthians, lá na Rua São Jorge, 777, imperdíveis...
Participava,
ocasionalmente, das festas do Colégio Estadual Gabriel Ortiz como convidado de
alunos eméritos, como o José Parada (chegou a ser deputado), Suely, Marisa,
Yara, Cláudia, e tantos outros, que eram secretários e diretores do grêmio
estudantil CEGO... Concluí o ginásio e o colégio no centro de São Paulo... Era
mais cômodo, pra mim, porque trabalhava no centro, além de ser mais confortável
em função da distância da Vila, transporte complicado e muito congestionamento
em horário de pico. Depois das 22/23 horas ficava mais tranqüilo voltar pra
casa, mesmo porque a gente desconhecia violência naquela época...
Em
virtude desse afastamento não tive colegas de escola na Vila esperança, pois só
fiz um ano de primário no Grupo Monsenhor Passaláqua, à noite, o que foi muito
pouco para um relacionamento com a elite da Vila... Meus amigos existiram
somente em função do futebol e dos clubes de dança de sábados e domingos (GRO,
SALAS, URVE, JET WHITE, AMAZONAS, CINCO DE JULHO, etc.), além das festas juninas
nos diversas arraias, na época, muito comum na Vila Esperança, onde aparecia
gente de todo lugar...
Realmente,
era uma Vila festeira em todas as épocas. Quanta saudade me dá... Do diz que me
disse... Das quermesses na Igreja Matriz da Igreja Padre Olivetanos... Houve
até os passes de Ogum de Babalaô no Terreiro do Caboclo Sete Espadas... Dos
cultos da Congregação Presbiteriana... Naquele tempo, lá na Vila, eu fui um
perfeito místico, quase sempre pra acompanhar a
namorada da vez, que tentava me tornar um iniciado em sua religião, que, para mim, tinha significado de muitos
mistérios,
bem longe da busca da comunhão ou identidade consciente
ou consciência de uma realidade ou divindade ou de prova de alguma verdade
espiritual... Fui, lá na Vila, um crente, um católico, um umbandista, ou o que
quer que fosse conveniente a namorada, mas sempre sincero e em boa companhia...
Entretanto, sempre afirmava e não escondia que permanecia católico e crente em Deus,
pela minha formação religiosa familiar e através da experiência direta e intuitiva desde criança... E que só o tempo diria o que eu seria realmente...
Gostei de todas as religiões que se me apresentava em cada momento... Gostei, particularmente,
da Umbanda, pareceu-me muito enternecedora e intrigante, além de cativante pelo
seu forte enredo que sincretizava, além das religiões
afro-brasileiras,
várias elementos de outras
religiões como a protestante, o catolicismo, o espiritismo
e, até, a religiosidade indígena...
Entretanto, não me aprofundei, mas gostei e foi só... Coisas da Vila, que não
encontrei em nenhum outro lugar... E que saudades me dá...
Assistia
aos ensaios da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, nas férias escolares,
mormente no fim de ano e véspera de carnaval, na quadra de futebol de salão no
Clube de Campo do URVE, ao lado da linha tronco da Central, perto da Vila
Guilhermina... Curtia muito suas badaladas e famosas estrelas como o mestre de
bateria Nicolau (que tocava o hino nacional no apito), Juju do contra surdo (e
sua famosa batida de chamada de repique: TUN, SQUINDUM, BURUNGUNDUM...), Chaplin
da caixa de repique (troféu de melhor repique), seu Nenê no pandeiro, e meus
amigos Caju, Bolinha, Demaro, Rômulo e outros na percussão, que me convidavam
sempre e... Quando podia, estava por lá vibrando e sambando...
Quando
a Nenê mudou pra Vila Marieta, perto do mato do Alemão, ficou mais difícil de
acompanhar de perto e perdi o contato com a Escola de Samba... Mas sempre
torcia por ela a distância e, quando podia, assistia seus desfiles na São João,
Tiradentes, Vale do Anhangabaú, Ibirapuera (não nesta ordem)... Cheguei até assistir
ao famoso encontro da Escola Nenê com a temível, na época, Escola de Samba Lavapés
(era a escola mais antiga e tradicional de São Paulo). O encontro foi na Rua da
Glória, no centro com Liberdade, indo até a Rua Lavapés, no Cambuci... O coro
comeu e o samba pegou fogo... Só feras... Era uma vida mais ou menos pra hoje e...
Ótima pra época...
Lembro,
ainda, que teve um circo instalado na mata da dona Olívia, na esquina da Rua
Nilza, onde eu morava... Incrível, mas o Roberto Carlos, naquela oportunidade, apareceu
e cantou por lá...
Não fui, porque nem sabia e porque estava estudando, mas tinha uma namorada (mais ou menos sério), e, por sinal, muito linda e atraente, tipo manequim, modelo e top model de tanto charmosa, parecia uma artista, chamada Lia, que foi assistir ao show do Roberto Carlos lá no circo...
O meu amigo, o Banzé, me disse, depois, que na saída do Roberto Carlos, assediado pela mulherada, entrou no carro a saiu acelerando a 120 por hora na Avenida Amador Bueno da Veiga...
Não fui, porque nem sabia e porque estava estudando, mas tinha uma namorada (mais ou menos sério), e, por sinal, muito linda e atraente, tipo manequim, modelo e top model de tanto charmosa, parecia uma artista, chamada Lia, que foi assistir ao show do Roberto Carlos lá no circo...
O meu amigo, o Banzé, me disse, depois, que na saída do Roberto Carlos, assediado pela mulherada, entrou no carro a saiu acelerando a 120 por hora na Avenida Amador Bueno da Veiga...
Mas,
logo em seguida, o Roberto Carlos, com seu olho de lince para as coisas belas, deu
uma ré de outros 120 km/hora e parou bruscamente, baixou o vidro, abriu a porta
e chamou a Lia (ela jamais me contou) e deu-lhe o beijo mais demorado da vida ou
dele ou dela ou de ambos, o certo é que demorou uma eternidade... O Roberto
Carlos deixou a minha gatinha, conforme meu amigo Banzé, estonteante e pra mais
de gamada no Rei (nunca mais a Lia pensou em sair comigo. Imagina?)... Cheguei
à triste conclusão de que mulher
bonita é que nem melancia, é quase impossível comer sozinho...
Levar
chifre, mesmo que de Rei, ainda na adolescência, é mau presságio... Seria o chamado corno fofoqueiro real: leva chifre do Rei e ainda sai contando pra todo
mundo... .Entretanto, acreditava, piamente, que o lance com o Roberto
Carlos não passou disto, porque no aniversário do Rei, num mês de abril, não
muito tempo depois, quando já fazia muito sucesso na Record, foi comemorado no
Cine Universo (a maior sala de espetáculos de São Paulo, na época). Ficava na
Av. Celso Garcia, no Braz, ao lado das Lojas Pirani, esquina com a Rua Bresser.
Eu via a Lia, num trânsito congestionado, quando eu passava de ônibus. A Lia
estava numa imensa filha pra entrar no cinema, como uma mera súdita e simples fã
do Rei, para poder assistir ao show ao vivo e quiçá, levar outro beijo ardente
do Rei, sabe-se lá.
Com
o trânsito parado, deu pra vê-la na fila com a sua irmã, acotovelada junto a
tantas outras fãs, como uma simples mortal e não como uma rainha, pra poder
entrar no Cine Universo. Mas, convenhamos, pelos atributos e approach de
princesa, bem que ela tinha status e.merecia ter sido a rainha do Rei... A turma do
CQC disse que o RC é tão bem dotado que parece que tem duas pernas.
Grande
parte do show, eu consegui assistir pela TV, transmitido ao vivo pela Record, no
auge da Jovem Guarda, com uma baita homenagem a Rainha Mãe, Lady Laura (Laura
Moreira Braga, capixaba, costureira, casada com um relojoeiro, mãe do cantor, quase
sogra da Lia, falecida há pouco mais de 2 anos, em 17/04/10, aos 96 anos, 2 dias
antes do aniversário de 69 anos do Rei. Com certeza 96, 69 e vice-versa, não foram
uma boa idéia na vida do Rei em 2010...
Teria
muito mais historias pra contar acerca da Vila Esperança... O melhor lugar que
vivi, e confesso que vivi em muitos lugares, mas nenhum foi como a Vila, porque
foi lá que conheci, não nesta ordem, Alvair, Aurora, Anita, Beth, Carolina,
Esdras, Elisa, Janes, Lia, Linda, Leide, Marisa, Marina, Mércia, Sônia,
Verinha, Jussara, Teresinha, e tantas e quantas Marias, como Maria Helena Rosa
da Silva, meu primeiro amor criança em uma linda Vila Esperança, que hoje me
tem na lembrança...
Nossa ! Me arrepiei todo a ler sua trajetória no Bairro de Vila Esperança onde morei ao lado da EMPRESA DE ÔNIBUS VILA ESPERANÇA...Lembrando que estive neste show do Roberto Carlos bem como da Cantora Marta Mendonça...Bem ! deixa pra la pois isto é uma longa história para ser contada neste momento....Parabéns por ter me levado ao passado, e fazendo-me lembrar do quanto fui feliz na minha juventude...Abraços Amigo e muito Obrigado !
ResponderExcluirNatal J. Silva - 20/02/2015
Sensacional relato!! Muito hilário também!! Esse Parabéns!!
ResponderExcluirParabéns por esse relato de sua trajetória de vida nesta vila tão maravilhosa e sempre inspiradora.
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